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WOME VIANA: Por que Kamña matou Kiña? Apiyemiyeke? Por que?

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(Escola Yawará 1986: Wome ao meu lado de cócoras com a filha nos braços.) No dia 19-01-24 recebi a triste noticia da morte de Wome Viana, líder do povo Kiña ou Waimiri-Atroari que viveu o período mais doloroso que este povo passou: o genocídio sofrido durante a construção da BR-174, Manaus-Boa Vista e a ocupação ou colonização de grande parte do seu território que reduziu o seu povo de 3.000 para 332 sobreviventes. Sem saber o por que de toda a violência sofrida, o povo Kiña se pergunta até hoje: Apiyeme? Apiyemiyekî? Por que? Por que Kamña=civilizado matou Kiña=a nossa gente? Pergunta que repetiam de viva voz, por escrito e em seus desenhos, durante o processo de alfabetização que coordenamos na aldeia Yawara, no final da Ditadura Militar. E foi nos desenhos e falas de Wome que este tema mais apareceu. Ainda menino, durante o período de ocupação armada pela FUNAI-Exército, Wome foi desviado do seu povo por funcionários da FUNAI e durante longo período obrigado a conviver no regime des

A MISSÃO DAS FORÇAS ARMADAS

“...os militares se revelaram incapazes de instituir a paz dentro do território Yanomami. Que vergonha para a nona maior economia do mundo ter Forças Armadas que não conseguem lidar com o quê, dois ou três mil garimpeiros? Se os militares brasileiros não são páreos para esse pequeno contingente humano, imagina numa invasão estrangeira. Adeus, Brasil.” - Rubens Valente Tenho 88 anos. E faltava apenas um mês para completar meus 79, quando fui convidado a acompanhar 14 guerreiros Yanomami em uma ação de destruição de dois garimpos ilegais, instalados na terra Yanomami, em um afluente do rio Couto de Magalhães, próximo à fronteira da Venezuela. Durante a longa viagem, de ônibus até Boa Vista, 45 minutos de avião, navegando pelos rios Mucajaí e Couto de Magalhães e finalmente, caminhando pela floresta até o destino, me perguntava: por que me convidaram a mim e não as Forças Armadas? Só tive condições de carregar algumas cartelas de ovos do espólio conquistado! A história das Forças Armadas

PONTO FINAL: TONELADAS DE SOLIDARIEDADE

No momento estão a caminho de Gaza 2 toneladas de alimentos doados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-MST. Acompanhei intensamente e com grande preocupação em 1978 a expulsão pelo povo Kaingang de centenas de pequenos agricultores da terra que restava aos Kaingang em Nonoai/RS. Desde 1967, via de perto a situação angustiante dos Kaingang no Rio Grande do Sul que perdiam suas ultimas nesgas de terra, invadidas por agricultores sem esperança de uma Reforma Agrária que lhes garantisse um chão.  Fui dos poucos da sociedade nacional que soube, com antecedência, do plano do levante dos Kaingang e executado, minuciosamente, procurando evitar derramamento de sangue.  Milhares de agricultores foram forçados a deixar Nonoai em poucos dias e não tiveram simplesmente para onde ir. Foram acampar ao longo da estrada, na Encruzilhada Natalino, município de Ronda Alta/RS. Os governos federal e estadual queriam deportá-los, parte para o Mato Grosso e parte para a Transamazônica. Mas o padre da

OS POVOS TEM O DIREITO DE SE DEFENDER DO COLONIALISMO

O colonialismo é essencialmente perverso. E o Estado de Israel é fruto do colonialismo inglês e americano. No ato de sua criação, em 1948, foram expulsos de sua terra imemorial 750.000 palestinos. E mediante a pratica do colonialismo, Israel vem ampliando o seu território. Já são em torno de 500 mil colonos israelenses que se instalaram, à revelia de leis e tratados, em território palestino. Gaza é um “campo de concentração” de refugiados palestinos, resultado do colonialismo de Israel. Foi o que restou ao povo expulso do território hoje ocupado por Israel. Agora já vem falando em expulsar 2.200.000 para o deserto do Sinai. Vi e senti, durante 60 anos de minha vida as consequências do colonialismo português e brasileiro que pesou e pesa genocida sobre os povos originários no Brasil e não me arrependo de ter gasto todos estes anos lutando contra este colonialismo e suas consequências. Ao terminar o curso de Filosofia iniciei uma maratona pelo país, a fim de ver o que acontecia aos povos

SECRETARIADO DO CIMI: 50 ANOS

  Nos anos 50 e 60 a situação dos povos indígenas brasileiros estava calamitosa. Isto porque a política indigenista dos Governos e das igrejas ainda seguia os passos daquela instalada por Portugal e o Vaticano em 1500. Oficialmente se objetivava a “integração nacional”, o que significava o etnocídio. A prática da Ditadura Militar na construção das rodovias pela Amazônia foi a violência, os massacres, o genocídio. Uma política de desrespeito à vida, aos direitos fundamentais, levando o índio sistematicamente à extinção, como mostra Darcy Ribeiro, em fins dos anos 50, em seu livro, OS ÍNDIOS E A CIVILIZAÇÃO. Os sobreviventes já então eram menos de 100.000. Ilustrativo da política genocida do Governo à época, está expresso no relatório Jader Figueiredo, resultado da CPI do Serviço de Proteção do Indio-SPI, em 1967. Não menos lúgubre era então a pastoral indigenista da Igreja, como mostra relatório do Secretário Nacional da Atividade Missionária da CNBB, Pe. Antônio Iasi, de 1970.  Mas com

A FLORESTA AMAZÔNICA e a sua Economia Invisível - Egydio Schwade

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Com uma incrível generosidade, silenciosas, escondidas, invisíveis, algumas espécies de arvores da floresta nativa daqui, em volta do rio Urubuí/AM, nos deram no semestre que findou, 3.252,8 kg de mel. Resultado da colheita do trabalho de 45 famílias de abelhas da espécie apis-melífera-africanizadas, localizadas em 6 apiários. Sem referir a cera, o própolis, o pólen que nos deram. E junto aos mesmos apiários cultivamos ainda 15 espécies de meliponíneos, abelhas sem ferrão, em torno de 200 enxames cujo mel ainda não foi colhido, mas que visitaram as mesmas árvores. O trabalho humano envolveu 6 pessoas, entre elas um com 87 anos de idade.  As árvores que ofereceram este abundante e precioso produto, sequer são conhecidas ou identificadas, por algum especialista ou instituto. Ninguém de fato as procurou, para vê-las, conhecê-las, identificá-las e agradecê-las. Vivem na solidão.  As abelhas nos levaram à descobrir a biodiversidade e o valor que existe na floresta nativa, tanto para tornar

11.05.2014 - TENHARIM: UM POVO CONDENADO AO APARTHEID - Egydio Schwade

 “Humaitá é hoje, em pleno século 21, uma cidade onde os índios não podem pisar, sob pena de serem espancados e mortos. Não apenas por comerciantes e pecuaristas, mas até por moradores que, como eles, vivem na pobreza.” 1 – Alceu Castilho As agressões ao povo Tenharim no seu habitat ao Sul do Amazonas, já vem de longe. E a sua motivação sempre foi de ordem econômica espoliadora. Curt Nimuendaju escrevia em 1922: “Da margem do Madeira foram expulsos, pela invasão dos seringueiros, em todo o trecho entre o Lago do Antônio e Paraizo.”. E em outro trecho: “Uma guerrilha cruel e traiçoeira começou e se arrastou durante longos decênios. Nas represálias dos civilizados, às mais das vezes, estes se comportavam pior que os seus adversários selvagens. Bradou-se por medidas enérgicas; exigiu-se o extermínio da tribo, e os moradores do sertão contribuíram o mais que foi possível para este fim, fazendo fogo sobre qualquer índio, onde quer que ele se apresentasse.  E foi desta forma, por uma guerra